Quais são as relações de trabalho que sonhamos?
24 junho 2019 - saopaulo

Em meio as discussões a favor da greve ou contra greve, sinto falta de uma análise mais profunda sobre quais seriam as relações de trabalho ideal para que mesmo que elas não sejam viáveis hoje ao menos caminhemos na direção correta.

No cotidiano convivo com empresas e organizações sociais com relações de trabalho bastante horizontais, onde cada dia faz menos sentido uma legislação trabalhista como a que temos hoje no Brasil. Sim, isso é uma pequena parte da economia, mas acredito que o mundo que vivemos hoje é um aglomerado de pequenas partes e é muito difícil encontrar padrões que representem 90% das relações trabalhistas para ter apenas uma lista de regras a serem aplicadas.

No meu ponto de vista, deveria haver uma legislação protegendo bastante o trabalhador quando existe um desequilíbrio muito grade de poder de negociação. Creio que esse grupo seria formado por pessoas que ganham até 3 ou 4 salários mínimos. Mas qual o sentido de uma legislação como a atual para pessoas que ganham mais de R$30 mil por mês? Ou empregados de empresa que ganham mais do que os ditos “empresários”?

É importante rever nossos conceitos de “empresário” e “trabalhador”. Os empresários são caracterizados em novelas como personagens ricos, que não trabalham e tomam champagne na 2a feira ao meio dia. Isso é muito distante do que vejo no dia a dia, desde os empresários que têm um mercadinho em bairros na periferia até sócios de empresas de tecnologia com milhares de funcionários, ambos trabalham muito todos os dias, geram empregos, tomam risco, pagam juros absurdos para financiarem suas empresas e se tudo der certo ganham dinheiro.

O “trabalhador” também não é o mesmo de 90 anos atrás. Ela ou ele são diversos, têm diferente poder de barganha frente aos seus contratantes, têm preferências diferentes e trabalham em setores radicalmente distintos. Não faz sentido algum tentar colocar todos dentro de uma mesma categoria. Acredito que a legislação deveria levar em conta essa diversidade, proteger quem precisa e deve ser protegido e liberar as relações quando o poder de barganha das duas partes é mais equilibrada.

Nos Impact Hubs estamos vendo emergir todos os dias mais e mais empresas com novas relações de trabalho, atuando em rede e criando relações de trabalho mais flexíveis e que respondem as necessidades dos empreendedores e colaboradores. Vemos mais redes de pessoas que não querem mais ser nem o “empresário” nem o “trabalhador”. Acredito que esse deveria ser o objetivo: criar organizações em que as relações de trabalho respondam as necessidades das pessoas tornando a legislação trabalhista cada vez menos imprescindível.

Por Henrique Bussacos, cofundador do Impact Hub São Paulo, Floripa e Manaus, e responsável por parcerias estratégicas do Impact Hub na América Latina.