Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: como cumpri-los até 2030

9 min. de leitura 23.07.2024

O mundo não está caminhando para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos para 2030. É o que diz o relatório oficial de 2024 das Nações Unidas, publicado no último dia 28.

O documento alerta que apenas 17% dos ODS possuem ações que apontam para uma evolução mensurável, enquanto as demais continuam sem ações concretas e em escala. De fato, é uma nota alarmante, já que restam apenas 6 anos do prazo para o cumprimento desses objetivos.

Em 2015, os ODS foram estruturados a partir de uma ótica de desenvolvimento sustentável, mas também e principalmente com foco em conter riscos. Considerando fatores políticos, ambientais e sociais, a continuidade das ações praticadas até então direcionaria nosso planeta e nossas relações à ruína.

Dada a importância deste eixo de pensamento – e diversos acordos em cenário macro e micropolítico -,  uma grande consciência sobre a importância da temática foi percebida ao redor do globo. Mas como isso tem acontecido na prática?

Evitando entrar em conceitos históricos e filosóficos sobre a linha de pensamento extrativista e predatória da humanidade – observada desde seus primórdios -, é chegado o momento de olhar para a cooperação como forma de evitar um grande colapso global.

Nesse aspecto, o trabalho de conscientização tem alcançado excelentes resultados, em especial na mobilização de atores não apenas estatais. Há uma evolução a partir da observação dos players globais que possuem voz internacional, como organizações e até mesmo pessoas de renome. Esse fato apresenta um grande avanço no desenrolar de ações pragmáticas rumo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, mas ainda insuficientes.

A era da informação nos mune de possibilidades. Até mesmo o conceito de soberania compartilhada facilita para que temas que, até então ignorados, possuam visibilidade para escolhas a partir da consciência individual, seja no mercado consumidor ou mesmo em ações que compõem cadeias produtivas diversas.

Por exemplo, se uma empresa, ainda que tenha grande parcela de mercado consumidor, é exposta sobre utilização de mão de obra análoga a escravidão, seus negócios sofrerão um abalo que pode ser insustentável e/ou irreparável.

O mesmo se dá em relação a empresas cujos processos oferecem algum prejuízo ao meio ambiente. É claro que populações conscientes e com poder aquisitivo não limitante tendem a boicotar essas empresas e optar por produtos ecológicos e mais saudáveis.

Ou seja, apesar de tudo, o cenário da evolução das relações é propício para uma virada de chave. Mas, mesmo sendo otimistas neste sentido, ainda é preciso mais. E, a intenção aqui não é apenas apontar os problemas, mas propor soluções.

E como nós, do Impact Hub, estamos atuando para tirar os ODS do papel?

Como bons makers (fazedores) que somos, organizamos nossa atuação em três frentes: 

Hub Inclui

Nossos programas buscam incluir mais pessoas na economia, reconhecendo os desafios impostos pelo sistema. Ao capacitar e acelerar pequenos empreendedores e cooperativas, promovemos um aumento significativo de renda e transformamos as vidas dessas pessoas, de suas famílias e de suas comunidades.

No Hub Inclui, nossas ações são guiadas pelos ODS 1, 4, 8, 10 e 17:

  • Objetivo 1: Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares.
  • Objetivo 4: Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos.
  • Objetivo 8: Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todas e todos.
  • Objetivo 10: Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles.
  • Objetivo 17: Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável.

Hub Escala

Atuamos de forma proativa para acelerar a transição para uma economia onde negócios e lucros sirvam às pessoas e ao planeta. Ao acelerar negócios de impacto socioambiental e apoiar grandes empresas e o governo a colaborarem com esses empreendimentos, ampliamos o alcance dessa nova economia.

No Hub Escala, nossas ações são guiadas pelos ODS 5, 9 e 17:

  • Objetivo 5: Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.
  • Objetivo 9: Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação.
  • Objetivo 17: Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável.

Hub Engaja

Temos como objetivo mobilizar comunidades empreendedoras dedicadas a transformar a economia. Com cinco espaços de coworking na Grande Florianópolis e oito em São Paulo, incentivamos a colaboração entre nossos membros empreendedores. Também atuamos em parceria com o Sebrae para impulsionar ecossistemas de inovação em todo o Brasil.

No Hub Engaja, nossas ações são guiadas pelos ODS 8, 9 e 11:

  • Objetivo 8: Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todas e todos.
  • Objetivo 9: Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação.
  • Objetivo 11: Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.

O que mais podemos fazer para avançar no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável propostos pela ONU?

A Agenda 2030, plano de ação em que foram estabelecidos os ODS, se trata de um panorama internacional. Isso significa que envolve o conceito de governança global.

Considerando que o mundo é composto por países com sistemas legais, regimentos internos, cultura e costumes únicos dotados de soberania próprios, naturalmente, os temas terão aplicação prática diferenciada em cada território.

Por isso, é importante que atores chave desses territórios estejam dispostos a participar das agendas, reuniões e eventos, criar conteúdo e “nacionalizar” – de acordo com peculiaridades locais – os direcionamentos obtidos em cenário internacional. Isso serve também para boas práticas e até mesmo atuação em redes.

Membros mais ativos da sociedade civil também devem atuar como makers que trazem interpretações e despertam a consciência prática para:

  • criação de políticas públicas;
  • atuação organizada da sociedade;
  • criação de mecanismos de controle e pressão para as tomadas de decisões em nível regional.

Esse desafio é ainda maior quando falamos de países heterogêneos e continentais, como o Brasil. O engajamento regional é uma das ferramentas mais poderosas e importantes para a tradução, a nacionalização e a aplicação de competências, quando falamos em ODS.

Além disso, um processo natural de descentralização de decisões é importante, até mesmo na desconstrução de uma das mais fortes raízes do Brasil, que é o aguardar pelos “salvadores”. Quanto maior o número de comunidades e grupos de interesse estiverem buscando por soluções diante de suas próprias realidades, mais rápido alcançaremos os objetivos.

Outro aspecto de grande importância, principalmente diante de um cenário internacional de interdependência (ou interconectividade, dependendo da abordagem teórica) econômica, é que as relações se pautam na competitividade empresarial, causando um temor na classe de empresas de que trabalhar com os ODS limitaria o desenvolvimento e abriria espaço para a concorrência.

É quase que um conceito dos estudos de guerra e paz, que apontam para a máxima de “quando meu inimigo largar as armas, eu também largo”. Nesse aspecto, é preciso desenvolver ações que possibilitem um trabalho de ODS atrelado à inovação. E aqui é importante lembrar que inovação não deve ser entendida como um trabalho a mais ou algo que vem para dificultar. Inovação serve para facilitar, encurtar processos e potencializar resultados com menos esforço. Se for diferente disso, não é inovação.

Em resumo: para cumprir até 2030 os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela ONU, temos um longo trabalho pela frente.

O envolvimento de mais atores não governamentais é fundamental. Precisamos coletar conhecimento científico de especialistas sobre soluções pautadas nos ODS internacionalmente e localmente, fazendo o mesmo movimento de nacionalização e internacionalização de esforços.

A partir da adaptação e tradução desse conhecimento para que seja compreendido por diferentes comunidades que possuem suas próprias características regionais, é possível aplicá-lo considerando cultura e peculiaridades do ambiente em que vivem.

É preciso engajar a complexa cadeia produtiva que compõe nossas relações mais diversas, fazendo com que todos se sintam responsáveis na tomada de decisões que miram nos ODS, por menores que sejam as ações. Que tenham um olhar macro até mesmo para minúcias do cotidiano, desenvolvendo consciência e ferramentas para aplicação prática.

Um exemplo simples: no conceito de combate à corrupção, é preciso trabalhar para que a população consiga enxergar que estacionar o carro em vaga de idoso não o sendo também é ser corrupto.

Trazemos aqui algumas propostas para acelerar esse processo:

  1. Encorajemos cada vez mais pessoas a integrarem esse meio – até mesmo como uma oportunidade de campo de trabalho para os jovens.
  2. Estimulemos a participação e o engajamento em temas relacionados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável como forma de potencializar a economia e até mesmo de sobreviver diante de uma concorrência que já o faz.
  3. Busquemos cooperar com quem já está avançado nos ODS. Assim, aprendemos e replicamos.

E não percamos nossa fé. O mundo precisa de nós.

 


Por Nilo Scandaroli

Profissional das Relações Internacionais, especialista em Cooperação Internacional e Políticas Públicas, mentor e palestrante em Relações Internacionais e áreas correlatas. Eterno defensor do networking e do desenvolvimento de habilidades socioemocionais. Entusiasta da atuação ESG e ODS aplicada ao desenvolvimento sustentável e internacionalização de cidades, empresas e organizações. Atua como analista de comunidade do AptaHub Santos, no Impact Hub São Paulo.

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